Este blogue surgiu no curso de Complemento de Formação Cientifica e Pedagógica para Educadores de Infância da Escola Superior de Educação Jean Piaget de Arcozelo, mais concretamente no âmbito da disciplina de Metedologia Didáctica Geral Especifica.



Foi uma tarefa proposta à turma pelo professor Carlos Jorge Correia e que se tornou muito interessante, na medida em que enriqueceu bastante a nossa formação, abrindo novos horizontes de comunicação com a comunidade que nos rodeia (pais, outros profissionais de educação, parceiros, ...). Este Blog destina-se a partilhar informações, vivências, experiências sobre esta primeira etapa da educação, que é a Educação Pré-escolar, enriquecendo cada vez mais esta área do Saber!...







segunda-feira, 25 de outubro de 2010

OS PATOS PERFEREM A ESCOLA!

O TEMPO em que os animais falavam, os bichos constataram que o meio em que viviam começava a tornar-se cada vez mais complexo e havia que impor novas hierarquias, estabelecer novos parâmetros de comportamento, uma vez que já não chegavam os seus instintos inatos para enfrentar as modificações do meio. Esta necessidade deu lugar à ideia de ESCOLA: uma estrutura social, que os habilitaria, A TODOS, para enfrentar as crescentes modificações a que assistiam. Foram escolhidos os melhores animais para a docência, isto é, os reconhecidos como mais experientes, alta profissionalização nos seus domínios específicos, grandes títulos em competições. O reconhecimento destas qualificações envaideceu-os, naturalmente, e a maioria esqueceu, desde logo a razão por que estava ali. Com muitas reuniões gerais de professores, muitas reuniões de grupo, reuniões de conselho pedagógico, de departamento, de secções, reuniões de conselho executivo, etc… escolheram o seguinte currículo: Nadar, Correr, Voar, Galpar montes e saltar obstáculos.
Os primeiros alunos foram o Cisne, o Pato, o Coelho e o Gato.
Começadas as aulas, cada professor, altamente preocupado com a sua disciplina, preparava primorosamente a matéria, dava sem perder tempo, procurando cumprir o programa e a planificação do mesmo. Faziam, assim jus aos seus títulos e competências. Mas os alunos iam-se desencantando com a tão sonhada escola. Vejam o caso particular de cada aluno:
- O Cisne, nas aulas de correr, voar e galpar montes era um péssimo aluno. E mesmo quando se esforçava, ao ponto de ficar com as patas ensanguentadas das corridas e calos nas asas, adquiridos na ânsia de voar, tinha notas más. O pior era que, com o esforço e desgaste psicológico despendido nessas disciplinas, estava a enfraquecer na natação, em que era o máximo.
- O Coelho, por sua vez padecia nas matérias de nadar e voar. Como poderia voar se não tinha asas? Em se tratando de nadar, a coisa também não era fácil não tinha nascido para aquilo. Em contrapartida, ninguém melhor do que ele, corria e galpava montes.
- O Gato tinha problemas idênticos ao do coelho, nas disciplinas de natação e voo. Ele bem insistia com o professor que, se o deixasse voar de cima para baixo, ainda poderia ter êxito. Só que o professor não aceitava essa ideia louca: não estava contemplada no programa aprovado e o critério de selecção era igual para todos.
- O pato, finalmente, voava um pouquinho, corria mais ou menos, nadava bem mas muito pior do que o cisne, e desastradamente, embora com algum desembaraço, até conseguia subir montes e saltar obstáculos. Não tinha reprovações a nenhuma disciplina, como os seus restantes colegas o que fazia sumamente brilhante nas pautas finais. Os professores consideraram-no o aluno mais equilibrado, deram-lhe a possibilidade de prosseguir estudos e, com tantos “atributos”, até fomentaram nele a esperança de um dia, poder vir a ser professor.
Os restantes alunos estavam inconformados. Nada tinham contra o pato, gostavam dele, compreendiam o seu grau mínimo de suficiência a todas as disciplinas, mas, perguntavam-se: a espantosa capacidade do Coelho em saltar obstáculos, correr e galpar montes não poderia ser aproveitada para enfrentar as tais novas situações sociais, que os levaram a ter a ideia de ESCOLA? E o Gato? De nada lhe serviria correr e saltar melhor do que o pato? E que utilidade teria, para o cisne, nadar como nenhum outro? –Cada um tinha, de facto, a sua queixa justificada. Escola, pensavam eles era o local onde aperfeiçoariam as capacidades que tinham, de modo a po-las ao serviço da sociedade. Se as coisas já estavam difíceis, que fazer agora com a tremenda frustração de não servirem para nada? Foram falar com os professores. As limitações de cada um eram um facto, eles sabiam que jamais seriam polivalentes, de modo a terem grandes escolhas. Contudo, se reprovassem no ano seguinte estariam exactamente na mesma situação.
Os professores lamentaram muito. Havia um programa, superiormente estabelecido e a questão era só esta: Ninguém tinha média igual ao do pato e, por isso, na sua mediocridade, ele era, estatisticamente superior a todos.
Os outros alunos abandonaram a escola. Desde então por razões óbvias a escola atrai mais os patos e, na sociedade são eles que dominam.


Fernanda Torrinha e Dulce Bento
In: Noesis, nº20, Setembro de 91

OS 4 PILARES DA EDUCAÇÃO (DELORS)

Os quatro pilares da Educação são conceitos de fundamento da educação baseado no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors.




A Educação ao longo da vida baseia-se em quatro pilares:
Aprender a conhecer
Tem como finalidade o prazer de compreender, de conhecer e descobrir

Aprender a fazer

Ensinar o aluno a levar à prática os seus conhecimentos teóricos.

As aprendizagens devem evoluir, não podendo ser encaradas como simples transmissões de práticas.

Aprender a viver juntos

Centra-se no campo das atitudes e valores e também na participação de projectos comuns.

Aprender a ser

Depende dos pilares anteriores.

Defende a criação de indivíduos autónomos, intelectualmente activos e independentes capazes de estabelecer relações interpessoais.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR



O brincar é uma das formas mais comuns do comportamento humano, principalmente durante a infância. Infelizmente, até há relativamente pouco tempo, o brincar era desvalorizado e menosprezado, destituído de valor a nível educativo. Com o evoluir dos tempos, atravessa-se uma mudança na forma como se percepciona o brincar, e a sua importância no processo de desenvolvimento duma criança.

Actualmente, verifica-se uma maior preocupação com a formação das crianças: tanto pais, como educadores, procuram a melhor forma de as tornarem responsáveis, equilibradas, etc, contudo, não é raro esquecerem-se que o brincar pode ser uma "ferramenta", por excelência, para que a criança desenvolva essas qualidades.

Mais do que uma "ferramenta", o brincar é uma condição essencial para o desenvolvimento da criança. Através do brincar, ela pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação. Ao brincar, exploram e reflectem sobre a realidade e a cultura na qual estão inseridas, interiorizando-as e, ao mesmo tempo, questionando as regras e papéis sociais. O brincar potencia o desenvolvimento, já que assim aprende a conhecer, aprende a fazer, aprende a conviver e, sobretudo, aprende a ser. Para além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.
Através da brincadeira, as crianças ultrapassam a realidade, transformando-a através da imaginação. Desta forma, expressam o que teriam dificuldades em realizar através do uso de palavras. Os jogos das criança não são apenas recordações do que vêem os adultos fazerem. Elas nunca reproduzem de forma absolutamente igual ao sucedido na realidade. O que sucede é uma transformação criadora do percepcionado para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações da própria criança, ou seja, uma reinvenção da realidade.

O brincar apresenta características diferentes de acordo com o desenvolvimento das estruturas mentais, existindo, segundo Piaget, 3 etapas fundamentais:


Dos 0 aos 2 anos de idade- Aqui ocorrem os chamados Jogos de Exercício. Neste período, a criança vai adquirindo competências motoras e aumentando a sua autonomia. Vai preferindo o chão ao berço, demonstrando alegria nas tentativas de imitação da fala... vai revelando prazer ao nível da descoberta do seu corpo através dos sentidos.
Elabora então as suas brincadeiras à volta da exploração de objectos através dos sentidos, da acção motora, e da manipulação - características dos "jogos de manipulação". Estes jogos oferecem sentimentos importantes de poder e eficácia, bem como fortalecem a auto-estima. Deste modo, constituem peças fundamentais para o desenvolvimento global da criança.

Entre os 2 e os seis/sete anos de idade- A simbologia surge com um papel fundamental nas brincadeiras, como são exemplo o "faz de conta", as histórias, os fantoches, o desenho, o brincar com os objectos atribuindo-lhes outros significados, etc. Os jogos simbólicos são possíveis dado que, nesta fase, a criança já é capaz de produzir imagens mentais. A linguagem falada permite-lhe o uso de símbolos para substituir objectos.


O jogo simbólico oferece à criança a compreensão e a aprendizagem dos papéis sociais que fazem parte da sua cultura (papel de pai, de mãe, filho, médico, etc.).


A partir dos sete anos de idade – Por fim, as brincadeiras e jogos com regras tornam-se cruciais para o desenvolvimento de estratégias de tomada de decisões. Através da brincadeira, a criança aprende a seguir regras, experimenta formas de comportamento e socializa, descobrindo o mundo à sua volta. No brincar com outras crianças, elas encontram os seus pares e interagem socialmente, descobrindo desta forma que não são os únicos sujeitos da acção e que, para alcançarem os seus objectivos, deverão considerar o facto de que os outros também possuem objectivos próprios que querem satisfazer.
Nos jogos com regras, os processos originados e/ou desenvolvidos são outros, uma vez que nestes o controlo do comportamento impulsivo é diferente e necessário. É a partir das características específicas de cada jogo que a criança desenvolve as suas competências para adaptar o seu comportamento, distanciando-o cada vez mais da impulsividade. Nestes jogos, os objectivos são dados de uma forma clara, devido à sua própria estrutura, o que exige e permite, por parte da criança, um avanço na capacidade de pensar e reflectir sobre as suas acções, o que lhe permite uma auto-avaliação do seu comportamento moral, das suas habilidades e dos seus progressos.


Brinquedo

O brinquedo representa uma oportunidade de desenvolvimento. Ele traduz o real para a "realidade infantil", suavizando o impacto provocado pelo tamanho e força dos adultos, diminuindo o sentimento de impotência da criança. Os problemas que surgem na manipulação dos brinquedos, jogos, etc, fazem a criança crescer através da procura de soluções e alternativas. Por exemplo, um boneco pode ser um bom companheiro e aliado; uma bola, um promotor do desenvolvimento motor; um puzzle, estimular o desenvolvimento cognitivo; etc.


O desempenho psicomotor da criança enquanto brinca, por exemplo, a correr atrás duma bola, alcança níveis que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Simultaneamente, estimula-se a atenção, a concentração e a imaginação e, por consequência, contribui para que fique mais calma, relaxada e aprenda a pensar, estimulando a sua inteligência e autonomia.


Papel dos Adultos
O adulto pode (e deve) estimular a imaginação das crianças, despertando ideias, questionando-as de forma a que elas próprias procurem soluções para os problemas que surjam. Além disso, brincar com elas, procurando estimular as crianças e servir de modelo, ajuda-as a crescer.


O brincar com alguém reforça os laços afectivos. Um adulto, ao brincar com uma criança, está-lhe a fazer uma demonstração do seu amor. A participação do adulto na brincadeira eleva o nível de interesse, enriquece e estimula a imaginação das crianças.

Conclusão

O brincar não significa apenas recrear-se, antes pelo contrário, é a forma mais completa que a criança tem de comunicar consigo mesma e com o mundo.

A criança precisa ter tempo e espaço para brincar. É importante proporcionar um ambiente rico para a brincadeira e estimular a actividade lúdica no ambiente familiar e escolar, lembrando que rico não quer dizer ter brinquedos caros, mas fazer com que elas explorem as diferentes linguagens que a brincadeira possibilita (musical, corporal, gestual, escrita), fazendo com que desenvolvam a sua criatividade e imaginação.

É a brincar que aprende o que mais ninguém lhe pode ensinar. É dessa forma que ela se estrutura e conhece a realidade. Além de estar a conhecer o mundo, está-se a conhecer a si mesma. Ela descobre, compreende o papel dos adultos, aprende a comportar-se e a sentir-se como eles.

O acto de brincar pode incorporar valores morais e culturais, em que as actividades podem promover a auto-imagem, a auto-estima, a cooperação, já que o lúdico conduz à imaginação, fantasia, criatividade e à aquisição dum sentido crítico, entre outros aspectos que ajudam a moldar as suas vidas, como crianças e, futuramente, como adultos.

É através da actividade lúdica que a criança se prepara para a vida, assimilando a cultura do meio em que vive, integrando-se nele, adaptando-se às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a competir, cooperar com os seus semelhantes: a conviver como um ser social.

AS CEM LINGUAGENS

AVALIAÇÃO POR PORTEFÓLIO

Amplamente difundido nos países anglo-saxónicos, este instrumento utilizado para a avaliação é proveniente das Artes, onde é usado para exibir os melhores ou mais significativos trabalhos de um artista (pintores, fotógrafos, escritores, jornalistas, etc), servindo de evidência sobre os seus talentos e capacidades.

Um portfolio de evidências de aprendizagem é uma colecção organizada e devidamente planeada de trabalhos produzidos pela criança ao longo de um dado período de tempo, de forma a poder proporcionar uma visão alargada e tão pormenorizada quanto possível das diferentes componentes do seu desenvolvimento (cognitivo, afectivo, social, linguístico...).
O portfolio reflecte e dá uma amostragem sobre os objectivos do currículo, os seus conteúdos e estratégias (Gullo, 1997).

Um portfolio não é, por si só, um instrumento de avaliação. Deve, sim, proporcionar uma forma de organizar e armazenar sistematicamente a informação recolhida sobre as crianças. (Gullo, 1997)

Entendendo o processo formativo como permanente e constante, o portfolio pretende ser essencialmente um instrumento de construção de aprendizagem, em aberto, passível de ser feito e refeito numa dinâmica de reflexão/construção/reflexão permanentes.
O objectivo máximo da avaliação através de portfolio é encorajar o ensino centrado na criança. (Shores e Grace, 2001)

É considerado fundamental, ao utilizar o portfolio, (Smidt, 1998; Shores e Grace, 2001) uma “avaliação sumativa”(4) final, na qual são sintetizados os dados recolhidos e que fazem parte do portfolio ou de qualquer outro formato de avaliação escolhido pelo educador.
Shores e Grace (2001) recomendam a elaboração de “relatórios narrativos”, ou seja, resumos das descobertas sobre o crescimento e o desenvolvimento individual de cada criança durante um período de trabalho específico.
Estes relatórios narrativos funcionarão como documentos de transição para o próximo educador ou professor e ainda como instrumentos de comunicação directa com a família. São ilustrados por amostras de trabalho da criança ou outros registos significativos concretos.

Objectivos do Portefólio:

*Apreciar/ Documentar o crescimento e o desenvolvimento da criança;
*Obter informação para planear o processo de ensino e aprendizagem;
*Comunicar com pais e professores;
*Identificar necessidades educativas especiais;
*Desenvolver na criança procedimentos de autoavaliação do seu próprio trabalho e realizações


Exemplo de organização do portfolio:

Áreas curriculares integradas

Formação Pessoal e Social

1.Relação Interpessoal
1.1- Com o Adulto
1.2-Com os Pares
1.3-Resolução de conflitos
2.Autonomia Pessoal e Social
2.1-Adaptação ao Meio escolar
2.2-Independência Pessoal
2.3-Resolução de Problemas
2.4-Iniciativa
3.Educação para os valores /cidadania
3.1-Responsabilização
3.2-Compreensão/ Expressão de sentimentos
3.3-Respeito pela diferença

Expressões e Comunicação

1.Expressão Motora
1.1 -Motricidade Global
1.2-Motricidade Fina
1.3-Posicionamento e Orientação no Espaço
2.Expressão Dramática
2.1-Jogo Simbólico
2.2-Jogo Dramático
3.Expressão Plástica
3.1-Atitude/Interesse
3.2-Representação Criativa – Desenho e Pintura
3.3-Representação Criativa – Construção Tridimensional
4.Expressão Musical
4.1-Relação Música/Palavra
4.2-Ritmo
4.3-Sons/Timbres
5.Linguagem
5.1-Compreensão
5.2-Oralidade
5.3-Interesse pela Leitura
5.4-Competências de Leitura
5.5-Competências de Escrita
6.Matemática
6.1-Classificação
6.2-Seriação
6.3-Relação espacial
6.4-Sequência e Tempo
6.5-Número/Quantidade
6.6-Contagem
6.7-Comparação
6.8 – Resolução de problemas
6.9 - Geometria

Conhecimento do Mundo

1.Saberes Sociais
O corpo e a própria imagem
Identidade sexual e papéis de género
Família /casa/ comunidade
Comunidade /serviços/ meios de comunicação
Objectos/ funções /características
T.I.C.
Segurança
Saúde e doença
História/ Cultura/ Tradições
2.Saberes Científicos
Biologia
Ambiente
Meteorologia
Geografia
Astronomia
Física/Química
Projectos de investigação

(Exemplo de) REGISTO DE RECOLHA DE DOCUMENTAÇÃO


☺- Registar a data e o tipo de evidência recolhida: amostra de trabalho, ocorrência significativa, entrevista, fotografia, comentário da criança, observação do educador, etc.


DOCUMENTAÇÃO DAS APRENDIZAGENS DA CRIANÇA

Implica:
 Recolha, organização e análise das amostras de trabalho das crianças, realizadas ao longo do dia, nas diferentes áreas de actividade
 Organização e análise das observações efectuadas, através do registo descritivo das ocorrências significativas realizadas ao longo do dia
 Preenchimento de folhas de registo relativamente à documentação já recolhida sobre as crianças, de modo a garantir que todas as crianças tenham informações para posterior avaliação das aprendizagens

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A AVALIAÇÃO COMO ALICERCE DA QUALIDADE NAS DIMENSÕES CURRICULARES DO JARDIM DE INFÂNCIA (Reflexão critica sobre a prática actual e as implicações da avaliação alternativa na sua mudança).

Após frequentar uma Acção de Formação sobre a importância da avaliação como alicerce da qualidade nas dimensões curriculares do Jardim de Infância e abordar, de forma mais profunda, as várias vertentes pedagógicas e metodológicas de diversos Modelos Curriculares (MEM, High-Scope,Reggie Emilia,...), não podia deixar de fazer uma reflexão critica sobre a minha própria prática.

Cada educador deve orientar a sua prática pedagógica em função de valores, princípios e modelos definidos aprioristicamente, isto é, deve ter um quadro de referentes teóricos que defende, os quais motivam e fundamentam a sua prática educativa no Jardim de Infância.
No decorrer desta acção de formação, reflecti bastante sobre a minha prática, nas diversas dimensões curriculares, e conclui que deveria questionar a minha acção no contexto educativo.
Ao ser confrontada com determinados modelos curriculares (MEM e High-Scope) e com os seus referenciais teórico-práticos apercebi-me que ao adoptarmos um determinado modelo, temos o nosso trabalho facilitado e muito mais organizado, na medida em que nos transmitem conhecimentos concretos relativamente à organização dos espaços /materiais, dos tempos, das interacções, …
Até à data a minha prática pedagógica baseava-se fundamentalmente numa pedagogia de projecto, que como não nos transmite implicações físicas e temporais, torna difícil uma organização neste sentido. Com a estrutura dos modelos este trabalho é facilitado e permite-nos organizar o nosso trabalho de forma a torná-lo mais coerente, para nós (educadores), para as crianças, para a restante equipa pedagógica e para os pais.
Apesar de na minha prática pedagógica se observarem ainda trabalhos realizados numa perspectiva transmissiva (prendas estereotipadas, estampagens utilizando a mesma técnica por todas as crianças,…), tomei consciência das diferenças entre esta perspectiva e uma perspectiva socioconstrutivista, que para mim revelou-se com muito mais fundamento.
“Um sistema de organização cooperada que as decisões sobe as actividades, os meios, os tempos, as responsabilidades e a sua regulação se partilham em negociação progressiva e directa…” (Nizza, Sérgio, In Modelos Curriculares para a Educação de Infância).
A criança, assim, tem um papel predominante na sua formação e parte-se da motivação intrínseca da criança, o que para ela e educador faz muito mais sentido. Questiona-se, planifica, investiga, coopera e resolve problemas, que vão de encontro com as suas necessidades e ideias próprias.
O papel do educador está muito mais estruturado e facilitado pela utilização de instrumentos que nos ajudam na nossa prática e organização do contexto educativo.
Estruturar conhecimentos neste sentido foi muito importante para mim e fez-me questionar outras dimensões curriculares, como os espaços/materiais.
Actualmente, na organização espacial da minha sala, pude observar que as áreas de trabalho não reflectiam as diversas áreas curriculares (matemática, abordagem escrita, …), que são trabalhadas através de actividades orientadas, contudo percebi que se estrutura-se os espaços de maneira diferente poderia integrá-las no trabalho de sala de uma forma não orientada para as crianças, onde elas podem aprender “brincando”. Deste modo, juntamente a algumas áreas já existentes na sala ( atelier de expressão plástica, biblioteca, área das construções/garagem, área do “faz-de-conta”,…) poderia haver um laboratório de ciências, uma oficina de escrita e da matemática,… Assim, as áreas de trabalho seriam verdadeiramente “centros de aprendizagem”, e não locais onde a criança está “ocupada” ou “entretida” enquanto o adulto executa um tipo de actividade orientada com um pequeno grupo, o que por vezes acontece.
Apesar de os materiais serem renovados e adaptados às necessidades e interesses que as crianças vão apresentando (novos jogos, novos livros, …), as áreas vão-se mantendo, ou quando não existe mais interesse das crianças por determinada área, esta dá lugar a uma área nova que pode estar relacionada com determinado projecto. Deste modo, as áreas da sala são rotativas e polivalentes, ou seja, quando surge um projecto e este avança no sentido de criar algo na sala relacionado com o tema, determinada área pode ser transformada, depois de debatido o problema em grande grupo. Os materiais são renovados com periodicidade e adaptados às necessidades e interesses que as crianças vão demonstrando. Por vezes, as próprias crianças criam novos materiais (jogos, livros,…) para introduzir na sala, que vão de encontro com as suas motivações.
A organização da sala é promotora da autonomia da criança, estando todos os materiais (plásticos, jogos, capas de trabalhos,…) ao seu alcance. A nível de organização espacial (nomes das áreas, tipos de áreas existentes, número de crianças em cada área, tempos em que as áreas são utilizadas) esta foi acordada e dialogada entre os adultos e as crianças, elaborando-se alguns instrumentos para uma melhor estruturação (quadro de regras, quadro de presenças, quadro de tarefas,… Falhou-se num aspecto que agora considero fundamental, que foi não ter havido uma explicitação do currículo às crianças, nem terem sido debatidas as aprendizagens que podem ser realizadas em cada área, o que favorecia a capacidade de as crianças entenderem que ali estão a trabalhar e que coisas estão a aprender em cada uma das áreas.
Para os pais e outras pessoas esta informação também é fundamental, na medida em que transmite os conteúdos que se trabalham em cada área, o que as crianças estão a aprender em cada situação, … Deste modo as áreas devem estar sinalizadas neste sentido, devendo este trabalho ser realizado com as crianças de modo a que elas entendam esta organização.
Relativamente aos tempos o que mais suscitou a minha atenção e reflexão foi o facto de a organização temporal poder contemplar, de forma equilibrada, diferentes situações, nomeadamente tempos de grande grupo e de pequeno grupo, ou até tempos individuais, estruturando os tempos de modo a termos flexibilidade para desenvolver as actividades planificadas, relacionadas com as diferentes áreas de conteúdo.
Os tempos de pequenos grupos revelaram-se para mim elementares na medida em que proporcionam às crianças ocasiões para usarem materiais diferentes, fazerem experiencias com eles, falarem sobre as suas descobertas e solucionarem problemas que encontram, assim como permitem aos adultos observar e interagir diariamente com o mesmo grupo de crianças e, deste modo, treinar estratégias de apoio num contexto estável. Os materiais podem relacionar-se com as diversas áreas de conteúdo e, deste modo, trabalhar cada uma delas, nos seus principais objectivos.
Tento sempre que a minha organização de tempos seja consistente e previsível, quer para as crianças, auxiliar, pais, sendo cada dia da semana específico para trabalhar determinada área de conteúdo (planificação semanal), e em que os diversos intervenientes no processo educativo tenham consciência e conheçam a sequência temporal da semana.
A organização dos tempos foi decidida pelo educador e transmitida às crianças no inicio do ano lectivo, algo que tenciono mudar no próximo ano, porque acho indispensável as crianças participarem também nesta organização, de modo a ajudá-las a se estruturarem temporalmente e interiorizarem melhor esta noção. As crianças devem participar na planificação, tendo em conta os tempos estabelecidos.
É visível a realização de projectos em que as crianças estão envolvidas, decorrendo estes nos tempos de grande grupo e tendo continuidade nos tempos de escolha livre, em que as crianças poderão querer dar-lhes seguimento.
Relativamente aos tempos de transição, estes são quase sempre assegurados pela auxiliar, com o planeamento da educadora, e são diversificados. Há medida que as crianças terminam as suas actividades/tarefas passam para outra situação onde desenvolvem uma actividade a seu gosto e acompanhada pela auxiliar (uma história, uma música, um jogo de palavras, jogos de memória visual, …), enquanto o restante grupo termina a actividade. Estes tempos de transição não têm sido contemplados na planificação, mas têm um suporte de planeamento por parte da educadora e auxiliar.
Um alicerce da minha prática pedagógica é a interacção adulta/criança e criança/criança. Ao realizar esta acção de formação compreendi que a criança pode ter um papel muito mais activo e indispensável, principalmente se, juntamente com o educador e auxiliar, participar activamente na gestão dos espaços, tempos, organizar actividades e projectos, ou seja, se houver uma partilha de poder entre adultos e crianças (prática democrática).
O clima na sala deve ser um clima de apoio, inter-ajuda, cooperação, tanto entre adultos/crianças como entre crianças/crianças. Por vezes minimizamos as capacidades das crianças que, a meu ver, são uma ajuda preciosa para o trabalho do educador, na medida em que propõem ideias, partilham opiniões, ajudando-nos a pensar e reflectir sobre determinados aspectos e, deste modo, conhecê-las melhor, para melhor adaptarmos o nosso trabalho. É fundamental observarmos e conhecermos bem as nossas crianças, os seus interesses e necessidades, as suas competências e aptidões, de modo a colocarmos desafios e desenvolvermos trabalhos que vão de encontro ao observado, numa zona de desenvolvimento proximal, apoiando-as e enriquecendo-as.
Quanto ao desenvolvimento de projectos e sua abordagem, ao longo da minha experiência, posso concluir que é um misto entre o modelo directivo e o modelo centrado na criança. Normalmente é um projecto temático, cujo tema é escolhido pelas crianças e vai de encontro com à manifestação de interesses das crianças. Contudo, a sua abordagem é emergente pois parte da iniciativa das crianças, de material e pesquisas realizadas por elas sobre o tema, em que o educador também participa. O planeamento é definido à medida que o processo decorre, no entanto, estes projectos envolvem todo o grupo nas actividades previstas e são maioritariamente orientadas pelo educador. A avaliação é realizada também pelo educador, centrada no desenvolvimento do grupo e resultados de aprendizagem.
No final desta acção de formação apercebi-me que a minha abordagem de projecto é um misto entre os três modelos (directivo, centrado na criança e construtivista) e que é importante aprofundar e adaptar o meu trabalho a um modelo construtivista, com o qual me identifico mais.
Relativamente às outras experiências e actividades realizadas tento, na planificação, remete-las para o currículo. Deste modo, distribui-o as diversas áreas de conteúdo pela semana, trabalhando expectativas chave quanto à aprendizagem a efectuar pela criança, dentro de cada área.
A observação é algo sempre presente na minha prática pedagógica e normalmente sobe a forma de registos de ocorrências significativas. Esta acção de formação ajudou-me a estruturar melhor os suportes das minhas observações e, assim, organizar melhor a minha recolha de documentação, e como estes momentos devem ser parte integrante da rotina diária.
A documentação por mim recolhida tenta abranger todos os aspectos das áreas curriculares e é analisada periodicamente, de modo a favorecer a reflexão sobre a minha acção educativa, dirigindo e orientando as decisões educativas. Fundamental foi também conhecer a importância do Portfólio e familiarizar-me com a sua organização e conteúdos. Ajudou-me a organizar as observações e documentação, de modo a ajudar na avaliação. Pois num Portfólio devem constar observações e documentação referente a todos os aspectos das áreas curriculares, as quais serão interpretadas e sobre as quais se fará uma avaliação sumativa. Das diferentes perspectivas sobre avaliação, a socioconstrutivista é a que para mim tem mais fundamento, pois é uma promoção da aprendizagem, que inclui procedimentos de descoberta e interpretativos (observação – registo – documentação – portfólio) e que, acima de tudo, é realizada pelas crianças.
Resumindo, “ver e ouvir a competência da criança é essencial para fazer dessa competência o ponto fulcral da actividade educacional”. (Oliveira – Formosinho, 2002:147)

A GUERRA DO FOGO (1981)



Ficha Técnica:

Filme: A Guerra do Fogo (1981)
Realização: Jean-Jacques Annaud
Origem: EUA
Interpretação: Everett McGill, Ron Perlman, Nicholas Kadi, Rae Dawn Chong
Argumento: Gérard Brach segundo um romance de J.H. Rosny Sr.
Produção: Véra Belmont, Jacques Dorfmann, Denis Héroux, John Kemeny
Fotografia: Claude Agostini
Música: Philippe Sarde

Análise Concentrada:

O filme retrata um período na pré-história e dois grupos de hominídeos. Um grupo menos desenvolvido, que encara o fogo como algo sobrenatural, e outro grupo mais evoluído, com uma comunicação e hábitos mais complexos, que já domina a habilidade de produzir o fogo.
Durante o desenrolar do filme estes dois grupos entram em contacto, levados por diversas circunstancias, desenvolvendo um processo de aprendizagem de muitas coisas novas (percebem que há uma maneira diferente de viver; observam as diferentes formas de linguagem, o sorriso, a construções de cabanas, pintura corporais, o uso de novas ferramentas, e mesmo um modo diferente de reprodução.).

Na minha opinião...


Este filme encaixou-se no contexto desta unidade curricular, na medida em que aborda conceitos relacionados com a educação e o processo de ensino-aprendizagem. Conseguimos identificar conceitos que ainda hoje são valorizados como a aprendizagem através da acção, a importância da observação na aprendizagem, a transmissão de conhecimentos como forma de evolução, …
A nossa humanidade evoluiu porque foi aprendendo novas coisas, aperfeiçoando e adaptando esses conhecimentos e transmitindo-os de geração em geração.